Este livro está dividido em três partes: PARTE 1. QUEM SÃO Como chegaram até aqui, como construíram o seu poder social ao longo do último século e como dominam hoje a economia e as escolhas estratégicas em Portugal. PARTE 2. COMO VIVEM Onde moram, que escolas frequentam, como organizam a sua vida social e, finalmente, alguns dos seus luxos. Para sabermos como vive este milhar de pessoas que constitui o núcleo essencial da burguesia portuguesa e que ocupa os lugares de poder e de intermediação à sua volta, recorremos a auto-retratos, testemunhos e publicações, anúncios, imagens, descrições de instituições, histórias, reportagens e crónicas, mapas e outros instrumentos. PARTE 3. COMO MANDAM Nesta parte do livro procuramos responder a uma nova pergunta sobre as raízes e o funcionamento dessa relação de poder e que é normalmente esquivada pelo discurso político: se de um lado estão os 99% e do outros os 1%, então porque é que são estes quem detém o poder? |
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CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO A burguesia foi um orgulho. “Sou um membro da classe burguesa: sinto-me como tal e fui educado nas suas opiniões e ideais”, escrevia Max Weber em 1895 (Weber, 1895: 2). “A guerra de classes encontrar-me-á do lado da burguesia educada”, garantia John Maynard Keynes trinta anos depois (Keynes, 1925: 295). Neste virar do século, grande parte da elite social reconhecia-se na burguesia, nas virtudes do progresso, na civilização resplandecente das novas máquinas, na expansão sem fim do capitalismo. O fim da história foi inventado pelo imperialismo vitoriano e era o credo da burguesia. No entanto, alguns destes profetas sentiram também a ameaça do fracasso, e foi precisamente o que aconteceu nos casos de Weber e de Keynes. Acrescentava Weber: “Quando me pergunto, (se) a burguesia alemã está presentemente preparada para ser a classe politicamente dominante (...) não posso agora responder que ‘sim’” (ibid.). Keynes foi mais longe: “o capitalismo decadente mas individualista (...) não é um sucesso. Não é inteligente, não é bonito, não é justo, não é virtuoso – e não cumpre as suas promessas” (Keynes, 1933: 757). Pior ainda: “quero avisar os cavalheiros da City e da alta finança que se não ouvem a tempo a voz da razão os seus dias estarão contados” (ibid.). Em Portugal, a mesma perplexidade. Antero de Quental, na segunda das suas Conferências do Casino, invectivava a monarquia pelo atraso e aspirava à emergência de uma burguesia dominante, a “classe moderna por excelência” e “a quem estava destinado o futuro”: “A burguesia, a quem estava destinado o futuro, erguia-se, começava a ter voz. As nossas monarquias, porém, tiveram um carácter exclusivamente aristocrático: eram-no pelo princípio, e eram-no pelos resultados. Governava-se então pela nobreza e para a nobreza. As consequências sabemo-las nós todos. Pelos morgados, vinculou-se a terra, criaram-se imensas propriedades. Com isto, anulou-se a classe dos pequenos proprietários; a grande cultura sendo então impossível, e desaparecendo gradualmente a pequena, a agricultura caiu; metade da Península transformou-se numa charneca: a população decresceu, sem que por isso se aliviasse a miséria. Por outro lado, o espírito aristocrático da monarquia, opondo-se naturalmente aos progressos da classe média, impediu o desenvolvimento da burguesia, a classe moderna por excelência, civilizadora e iniciadora, já na indústria, já nas ciências, já no comércio. Sem ela, o que podíamos nós ser nos grandes trabalhos com que o espírito moderno tem transformado a sociedade, a inteligência e a natureza? O que realmente fomos; nulos, graças à monarquia aristocrática!” (Quental, 1871). Para Antero, o fracasso de Portugal era a falta da burguesia. Já Guerra Junqueiro pensava o contrário e encontrava o mal da pátria nessa “burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro (a prisão junto à Sé de Lisboa). Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas”. Pior ainda a sua representação política: “Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar” (Guerra Junqueiro, 1896). Para Guerra Junqueiro, o fracasso de Portugal era a dominação dessa burguesia “sem vergonha”. Pese a Junqueiro e por certo diferentemente do que ansiava Antero, um século depois, o núcleo central do poder económico da burguesia portuguesa, vencedora e dominante, é constituído por umas dezenas de famílias, ou cerca de mil pessoas: são 0,01% da população. À sua volta, cerca de trezentas mil pessoas constituem a estrutura de comando social, incluindo os proprietários e responsáveis das empresas de produção, distribuição e finança, e os dirigentes das principais instituições públicas e privadas: são 3% da população, havendo diversidade e contradições nestes grupos. Neste livro vamos analisar esta classe social, descrever a sua evolução nos últimos quarenta anos e discutir quem a compõe, como vive e como manda na sociedade. A burguesia, a classe que detém a propriedade dos meios de produção e que determina a reprodução da estrutura social da sociedade moderna, é a classe mais desconhecida. Sobre ela escasseiam os estudos, as estatísticas, os testemunhos, as memórias. Não conhecemos a burguesia, apesar de assistirmos regularmente à intervenção social de alguns dos seus representantes, por três razões. Mesmo exibindo a sua fortuna e poder, ela é a classe mais invisível nos seus modos de organização, seja porque as suas instituições se apresentam como a condição da coesão social, reclamando uma legitimidade acima do particularismo de classe, seja ainda porque naturaliza a cooptação dos sectores aliados na polarização social. A burguesia apresenta-se como a sociedade no seu todo. Por outro lado, a sua dominação ideológica é opaca, porque a dissemina da forma mais intensa através de máquinas de produção de senso comum. Finalmente, ao contrário da pobreza, “que se deixa auscultar, inventariar, descrever” (Pinçon e Pinçon-Charlot, 2007: 22), a burguesia mobiliza incessantemente recursos poderosos de resistência à objetivação e à desmistificação. O êxito dessa barreira de opacidade da burguesia é, aliás, um dos segredos do sucesso da reprodução da sua condição de classe, porque cultiva o sigilo sobre as diferentes fontes do seu património e sobre o processo de acumulação. Ao mesmo tempo, age em vários planos distintos, os da economia, da política, da vida social, da cultura, uma teia que só pode ser decifrada através de uma estratégia de pesquisa que se atreva a dissecar a multidimensionalidade da sua ação coletiva. Esse é o objecto e objectivo deste livro. O estudo da burguesia portuguesa contemporânea exige, por isso, caminhos teóricos e empíricos diversificados e nem sempre convencionais. No cruzamento entre eles começam a sobressair os contornos do poder em Portugal e a resposta a uma indagação histórica sobre as causas do atraso, da decadência, da subalternidade e, agora, da subjugação do país. Ou, mais ainda, sobre o seu futuro. Como se verificará ao longo deste trabalho, procurámos exercitar a imaginação metodológica (Pinto, 1994). Se o nosso objeto de estudo é complexo – a burguesia nas suas múltiplas dimensões de criação, apresentação e representação – urge, então, responder no desenho de pesquisa ao cariz relacional de tal objeto. Para isso, é necessário percorrer, num vaivém contínuo, os mais diversos aspetos ligados às suas condições materiais de existência, incluindo facetas ritualizadas do quotidiano, por vezes mediadas por poderosos processos hegemónicos, incluindo a construção social de uma fachada notoriamente oculta em lugares pretensamente neutros, ou neutralizantes. A nossa rede de indagações teóricas e de construção de grelhas de análise dos processos de acumulação, dos discursos, representações e práticas da burguesia portuguesa contemporânea parte do marxismo, numa postura epistemológica aberta, como de resto se explicitará no último capítulo. Assim, os leitores encontrarão em diversos capítulos as influências de reflexões de Marx, de Gramsci, de Foucault, de Habermas, de Bourdieu, de Bensaid e de outros. Esta postura teórica seleciona, como não poderia deixar de ser, variáveis e dimensões da realidade e modos de abordagem. Ela coloca-nos perante as questões mais difíceis acerca da classe dominante: como se formou, como se reproduz e como organiza a sua hegemonia. Assim, são três as características principais da nossa agenda de investigação. Em primeiro lugar, definimos a nossa agenda procurando articular procedimentos quantitativos (exploração de bases de dados e estatísticas, por exemplo) e qualitativos (análise temática dos conteúdos de documentos), detectando as grandes tendências e casos singulares mas densos. Em segundo lugar, tentámos, sempre que possível, diversificar as escalas de observação: analisando fatores e processos estruturais da sociedade portuguesa (distribuição de posições e recursos no espaço social; formas de acumulação de capitais e poderes diversos; tendências fortes da ligação entre poder económico, capital social e influência política; configurações do Estado), mas também as cenas da vida burguesa, tal como nos são representadas nos diferentes media, com particular enfoque para os traços cada vez mais interessantes que o ciberespaço proporciona, a par das formas predominantes de comunicação de massas, desde a literatura kitsch até à telenovela. Em terceiro lugar, esforçámo-nos por conciliar uma exploração de fontes secundárias, pré-existentes, nomeadamente a literatura sobre classes sociais em Portugal, com material empírico produzido diretamente nesta investigação. Assim, em termos gerais, a nossa orientação metodológica consistiu em combinar pressupostos dedutivos (a abordagem marxista de um conjunto de propostas teóricas) com um trabalho indutivo que parte da maior variedade possível de contextos observáveis, porque é nessa pluralidade de trânsitos acumuláveis que a burguesia constrói o seu domínio, como sejam listas de governantes, discursos do Presidente, ação das empresas, resultados da justiça, articulação de redes internacionais, histórias familiares e descrições dos lazeres, estratégias matrimoniais, moda, consumos, publicidade, desportos, relatórios e contas de bancos, homilias, manuais de estudo e exames, telejornais, telenovelas, romances cor-de-rosa e muitos outros produtos. Desta forma, privilegiámos os chamados recursos não interferentes, recolhidos “sem extração direta de informação do respondente ou informante” (Lee, 2003: 204), porque a burguesia é de difícil acesso. A grande vantagem destes é a circunstância de não serem reativos, evitando, por conseguinte, as respostas de “honra ou prestígio” dos observados, ultrapassando o seu desejo de produção de uma imagem coerente ou de alteração do seu comportamento pela presença do investigador. Na primeira parte do livro, começamos por ampliar o estudo que dois dos autores, com alguns outros investigadores, publicaram em 2010 sobre os Donos de Portugal, uma análise histórica sobre o poder económico ao longo dos cem anos desde a implantação da República (1910-2010). Mas, distintamente desse trabalho, este livro constitui também uma análise sociológica em que nos interessa, além de como a relação de poder se forjou na economia e na história política, o modo como a burguesia se constitui como classe, como se reproduz, como se multiplica e alarga, como se organiza e como domina a sociedade. Para tanto, procedemos a um estudo inédito sobre as relações de todos os membros dos governos constitucionais com as empresas e a uma análise dos processos de cooptação social que asseguram o poder numa sociedade em que as rendas são um factor predominante de acumulação. Na segunda parte do livro, usamos intensamente a inspiração do estudo pioneiro de Bourdieu e Boltanski (1976). A sua concepção aberta e imaginativa de dados passíveis de serem descobertos e analisados, a sua capacidade de perscrutarem autênticos esconderijos de informação, a sua astúcia na colocação de questões cuja resposta implica recursos empíricos tantas vezes desprezados pelas ciências sociais, levou-nos a considerar a importância de informações que podem ser encontradas (tanto ou mais do que captadas) e recontextualizadas. No universo da Web pululam sites de publicidade a condomínios de luxo, assim como entrevistas aos famosos ou fotografias dos seus rituais, lazeres, galas e cerimónias várias; nas instituições onde se move a burguesia, os vestígios da sua prática consubstanciam-se em miríades de textos, relatórios e programas; o trabalho de produção e disseminação da sua visão do mundo encontra-se, por vezes, em documentos tão insuspeitos como esses dispositivos de transfiguração e reconhecimento da transmissão do saber, que são os exames das universidades; no ecrã da TV ou na interface de jornais e revistas repetem-se lugares comuns e organiza-se a ideologia dominante da sociedade. Percorremos esses textos, lugares e ideias. Em todos eles encontramos uma hiperritualização da realidade, como Goffman lhe chamou, resultado de uma ritualização, em segundo grau, de comportamentos e posturas aparentemente anódinos, ou de primeiro grau, o que nos levou a construir modelos de interpretação e desvendamento das várias metamorfoses com que a burguesa se apresenta e representa. Ao mesmo tempo, exploramos os “registos cursivos” (Lee, ibid.), que dão conta de práticas sociais persistentes e continuadas, de configuração factual e acumulada em bases de dados, oficiais ou não. Assim, a circunstância de não ser acessível a inquirição direta dos nossos observados levou-nos a pesquisar o online e o offline, o visual e o não-visual, o escrito e o contado, o visto e o ouvido, o estatístico e o qualitativo. Qualquer destes elementos, ao ser integrado num corpus de análise relevante, ganhava um novo contexto conceptual. A informação resultou, por isso, das múltiplas portas de observação abertas; dos métodos plurais de recolha de dados; da inventariação sistemática de recursos empíricos e da exploração das amostras selecionadas e da bola de neve a que amiúde obrigavam. Deste modo, fotografias, vídeos, revistas, sítios, brochuras publicitárias, bases de dados, manchetes de jornais, estudos académicos, bem como outros recursos, serviram como fontes secundárias que, cruzadas, testadas, trabalhadas, quantitativa e qualitativamente, multiplicaram os olhares e as dimensões de análise. Porque, voltando a Bourdieu e Boltanski, a reprodução da burguesia exige a análise dos “lugares neutros e comuns”, por vezes de roupagem oficial, onde procura dissimular o processo de acumulação e de universalização da sua ideologia. Nele se confunde, frequentemente, a produção de sentido com a sua reprodução, uma vez que os lugares de racionalização da linguagem dominante produzem o seu efeito precisamente na própria circulação, através nomeadamente dos media ou do discurso e práticas de organismos burocráticos. Para tal, importa proceder constantemente a um vaivém dialético: dos vestígios e registos (textos e documentos, em sentido lato), às questões que eles induzem; destas às “caraterísticas sociais dos produtores e dos lugares de produção” de tais vestígios e registos (Bourdieu e Boltanski, 1976: 10), numa espiral de novas indagações. Sem sombra de fascínio, este livro é um exercício da vontade de compreender e de revelar tudo o que ganha a sua força por permanecer discreto, ou que se exibe ocultando-se. É, assim, uma teoria sobre a construção social do poder da burguesia no capitalismo tardio, aplicada à evolução de Portugal. Organizado em três partes (quem são, como vivem e como mandam) e uma conclusão teórica e analítica, esta investigação percorre caminhos novos tanto na mobilização de informação estatística e factual, quanto na conjugação de métodos de análise histórica e sociológica, ou das ciências económicas e políticas e ainda de análise cultural e simbólica. Escrever sobre a burguesia portuguesa ou sobre as suas interconexões internacionais, descrever o seu poder, assinalar a relação íntima entre os interesses empresariais e os governantes, esboçar uma teoria dos mecanismos do poder de classe que se baseiam na ampliação da sociedade civil, esse contributo para a compreensão da sociedade portuguesa e das suas contradições estava por fazer. É a ele que nos dedicamos nas páginas que seguem. |
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CAPÍTULO 2. A FAMÍLIA DAS FAMÍLIAS Nas duas décadas anteriores à queda da ditadura, o país tinha conhecido uma modernização intensa, contraditória e conservadora, que se desenvolvera no quadro da repressão policial e da crise militar do último império colonial europeu e que mantivera os problemas estruturais deste capitalismo autoritário, baseado numa acumulação protegida pelo Estado, assente no controlo da finança e nos ganhos de curto prazo. Neste capítulo é estudado este quadro, tratando a formação das dinastias do capital e o seu mercado matrimonial, bem como o papel da ditadura durante o seu longo meio século. Finalmente, é feito um inventário das famílias determinantes da burguesia proprietária de capital industrial e financeiro no século XXI. |
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CAPÍTULO 3. OS RENTISTAS O rentismo é a marca do ciclo privatizador português das últimas duas décadas. A reconstituição dos grupos económicos depois das nacionalizações baseou-se em dois pilares essenciais: a concentração bancária e o acesso a monopólios estratégicos convertidos em rendas garantidas, na energia, nas telecomunicações, em infraestruturas rodoviárias. Na definição dos sectores com maior acumulação e poder, tem também relevo aquilo a que chamamos rendas especiais. A primeira é o negócio imobiliário, um sistema de acumulação acelerada, baseado em capital fictício e protegido pelo resgate estatal. Outra dessas rendas é a que resulta das parcerias público-privado, que geram uma enorme dívida para várias gerações. Por fim, é tratado o rentismo especial que define o sector da grande distribuição, que usa e abusa de um poder de mercado que só o beneplácito do Estado permite. |
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CAPÍTULO 4. OS GRANDES GRUPOS ECONÓMICOS E A ACUMULAÇÃO DE CAPITAL Um pequeno número de empresas, detidas por poucas pessoas, cruzando participações em muitos casos, domina alguns dos principais sectores estratégicos da economia. No entanto, não dominam toda a economia. Alguns dos mecanismos de produção, distribuição e exportação de bens estão fora do controlo desta rede, o mesmo acontecendo com uma parte importante dos serviços. Pelo seu lado, os grupos de capitais estrangeiros, fazem também parte dessa rede. Como o investimento estrangeiro tem sido, em mais de quatro quintos, dirigido para aplicações financeiras, este processo de controlo tem vindo a ser reforçado, sem que ao mesmo tempo aumente o investimento produtivo. O padrão dominante da presença do capital estrangeiro é a aliança com sectores do capital nacional. |
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CAPÍTULO 5. OS DONOS ANGOLANOS EM PORTUGAL Em Os Donos Angolanos de Portugal, os autores deste livro apresentaram um estudo detalhado do poder económico e da influência política do regime angolano em Portugal. Neste capítulo, sintetizamos o essencial desse estudo e das conclusões que ele apresenta. |
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CAPÍTULO 6. ATÉ AO INFINITO E MAIS ALÉM: A POLÍTICA NA SENDA DOS NEGÓCIOS Neste capítulo, são estudadas as ligações entre a política e os negócios, analisando a informação pública relevante, é feito um inventário dos governantes, incluindo todos os membros dos Governos Constitucionais até final de 2013 – 776 ministros e secretários de Estado –, para identificar as suas carreiras e registar as suas principais ligações empresariais diretas. Assim, são estudados os protagonistas destas ligações, a sua formação universitária e antecedentes profissionais, a sua história política e empresarial, a forma como se integram nas redes de acumulação, destacando ainda a sua vinculação às maiores empresas e aos grandes grupos económicos, às parcerias público-privado e aos escritórios de advogados. Esse inventário completo nunca foi feito e é um instrumento indispensável para compreender a sociedade portuguesa e, em particular, os processos de ascensão social, de representação e de cooptação pelas empresas. |
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CAPÍTULO 7. O HÁBITO QUE FAZ A LEI: ESCRITÓRIOS DE ADVOGADOS E CONSULTADORES NAS PRIVATIZAÇÕES E PPP Os grandes escritórios de advogado acumulam as redes de relações empresariais e políticas, e conjugam-nas na operacionalização de grandes dispositivos de transformação da sociedade portuguesa, em particular as privatizações e os contratos de parceria público-privado. Mas destacam-se igualmente pela intervenção discreta ou aberta na preparação de legislação fiscal e outra, ou no acompanhamento e intervenção na preparação dos Orçamentos de Estado, protegendo os interesses das principais empresas e do seu capital acionista, que representam. Estes escritórios asseguram também um lugar político de reserva, suficientemente evidente e mediatizado para manter o capital de influência. |
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CAPÍTULO 8. OS CONDOMÍNIOS DA BURGUESIA: MODOS DE HABITAR E SEGREGAÇÃO ESPACIAL EM LISBOA E PORTO São descritos os condomínios de luxo, a partir dos dados disponíveis, como um sintoma de uma forma de segregação espacial e de proteção e envolvimento de classe. Através de exemplos, desenhamos o mapa destes condomínios e da sua valorização social. |
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CAPÍTULO 9. A PRODUÇÃO DOS HERDEIROS: DA FAMÍLIA À ESCOLA É feito o estudo sobre as escolas privadas e a forma como se articulam com a reprodução familiar. A produção dos herdeiros é assim acompanhada desde a infância por instituições especializadas e por muros de proteção, abrindo várias opções para as famílias, desde o cosmopolitismo até à educação religiosa. Verificamos ainda como estes caminhos foram ou não utilizados pela transmissão dinástica nalguns dos casos das famílias dominantes. |
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CAPÍTULO 10. CENAS DA VIDA BURGUESA: A MOBILIZAÇÃO DO CAPITAL SOCIAL Este capítulo trata dos rituais de classe, do desporto às festas, e da sua exibição nas revistas de coração ou de outras formas mais sofisticadas. A criação de símbolos e exemplos na teia social é uma das funções predominantes desta sociabilidade intensa e demonstrativa. |
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CAPÍTULO 11. O LUXO DOS "BURGUESES COMUNS": AS ESCOLHAS DE CARROS E VINHOS Inventário, a partir de um estudo empírico, de alguns dos luxos dos burgueses “comuns”, ou de sectores da sociedade que, tendo rendimentos elevados, procuram seguir um padrão de representação social copiado da burguesia, mesmo que não pertençam à classe. |
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CAPÍTULO 12. AS MÁQUINAS DE PRODUÇÃO DE SENSO COMUM: A SOCIEDADE DO DESEJO E DAS IDEIAS FEITAS Para descortinar o exercício do poder social da burguesia, para saber como mandam, discutiremos o poder simbólico e a produção de senso comum, ou seja, a fabricação de banalidades encantatórias e de lugares comuns com força hegemónica, para além dos mitos e de ideologias. Concentramo-nos nos primeiros, ao contrário da tradição teórica da sociologia crítica, porque são a parte produtiva de consentimento, enquanto os segundos são a parte receptiva da hegemonia. A nossa abordagem concentra-se, para isso, na forma como a burguesia produz o próprio modo de produção das identidades, reconhecimento e auto-retratação dos grupos sociais: nas ideias, nas frases, na cultura que domina o espaço público, nas representações, nos refrões. Usamos para essa investigação os mais diversos exemplos de publicidade, cerimónias, telenovelas, literatura kitsch e outros produtos de massas que conduzem a banalização da vida. |
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CAPÍTULO 13. AS MÁQUINAS DE PRODUÇÃO DO SENSO COMUM: O EXERCÍCIO DA AUTORIDADE Depois de analisadas as imagens produzidas a partir de baixo, este capítulo dedica-se às imagens definidas a partir de cima: a imagem de rigor, nomeadamente a do discurso técnico, e a imagem do poder, nomeadamente dos governantes e dos decisores financeiros, cuja distância em relação ao país é a condição para ser visível e portanto respeitado. Na criação dessas imagens sociais, encontramos alguns pilares que são ideias fortes e obsessivas. Os exemplos que trataremos serão a reivindicação do rigor salvífico (a redução dos salários é a solução para o desemprego, e o desemprego é a solução para a economia), a submissão ao interesse particular (os privados gerem melhor) e, ainda, a exigência exibicionista de subordinação popular (o discurso das elites sobre a plebe). Verificaremos depois como estas ideias são repetidas a partir do parlamento, do Presidente da República, da Igreja Católica, do Banco de Portugal, dos grandes bancos comerciais. |
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CAPÍTULO 14. O PODER DE CLASSE: A JUSTIÇA Alguns dos mecanismos coercivos têm simultaneamente uma função legitimadora, representando portanto uma combinação engenhosa entre a função de hegemonia, ou seja a criação de senso comum, e o exercício da autoridade, ou seja a imposição da lei ou das decisões de poder. É o caso do sistema de justiça, brevemente tratado neste capítulo, não tanto para proceder a uma análise do seu funcionamento, mas antes para o apresentar como mais um exemplo e ilustração do cruzamento dos mecanismos de dominação. |
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CAPÍTULO 15. ITINERÁRIO E PODER DA BURGUESIA NA SOCIEDADE DESIGUAL Neste capítulo, são comentados os principais contributos para uma sociologia crítica na análise das classes sociais e apresentados alguns dos critérios da topologia social que resultam desses contributos. Por fim, são inventariados os principais estudos teóricos e empíricos acerca das classes em Portugal. |
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CAPÍTULO 16. DEZ TESES E CONCLUSÕES Para conhecermos a burguesia portuguesa, partimos dos conflitos e antagonismos de classe nas dinâmicas sociais, não os entendendo como algo dado nem como lugares que se observam entre si, mas antes como processo e construção, campo de possibilidades ou potencialidades. Sabemos também que a burguesia é a classe mais mobilizada, com mais aguda consciência do entre-si e com uma maior correspondência entre práticas, discursos e representações. Conhecer essa classe, a sua evolução, as suas representações, é o programa, a razão de ser e a justificação deste livro. Neste capítulo, sintetizam-se as principais conclusões desta análise sobre a burguesia portuguesa. |
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INTRODUÇÃO. Os Donos Angolanos de Portugal nasceu de uma investigação mais vasta sobre a formação da burguesia portuguesa, na preparação de um outro livro, Os Burgueses, que será publicado depois deste que tem entre mãos. Enquanto investigávamos e escrevíamos sobre a história, as formas de acumulação de capital e de organização do poder social em Portugal, fomos registando os indícios de uma transformação que, nos últimos anos, acentua as ligações internacionais, a cooperação e aliança entre capitais nacionais e particularmente capitais angolanos, brasileiros e chineses, além dos tradicionais parceiros europeus. De todas estas ligações, a angolana é a mais destacada. É também a mais desconhecida. Há dois motivos para essa centralidade e para esse desconhecimento da relação angolana. Em primeiro lugar, do lado de Portugal, os capitais angolanos providenciam o financiamento de necessidades imediatas, recapitalizando bancos e empresas, participando em privatizações ou multiplicando formas de cooperação bilateral, de que são exemplo as alianças de Isabel dos Santos com Américo Amorim ou, depois, com Belmiro de Azevedo. Em segundo lugar, do lado angolano, Portugal garante uma porta aberta para investimentos e aplicações financeiras com regras e facilidades que nenhum outro país da União Europeia permitiria, nomeadamente através da compra de partes significativas da imprensa, da banca e de outros setores decisivos. Por isso, apesar dos elementos de conflito latente ou expresso em choques comunicacionais, sustentamos que a ligação aos capitais angolanos não só foi a maior transformação na burguesia portuguesa nos últimos anos, como vai manter-se porque é estrategicamente indispensável para o próprio processo de acumulação de riqueza em Angola. Ora, esta ligação tem características únicas. Algumas estão associadas à natureza do processo de formação da burguesia angolana, em torno do controlo pelo Estado da renda petrolífera, posta ao serviço de uma família e de um pequeno número de empresários da sua rede de influência. Assim, a corrupção, a desigualdade social que provoca e a violência que protege este privilégio familiar marcam a relação do capital angolano com a sua sociedade e com outros países. A ligação ao capital angolano é ainda definida pela atuação da burguesia portuguesa, em particular num momento em que necessita de financiamentos para manter um processo de acumulação com grandes benefícios e poucos investimentos. São esses processos predatórios que analisamos neste livro. Nele inventariamos as principais redes de relação entre os capitais angolanos e os portugueses, identificando os protagonistas, as suas histórias e os seus interesses. Assim, não se trata de um livro sobre Angola. Não pretendemos analisar o poder angolano e a evolução social ou económica do país, tarefa que incumbe em primeiro lugar aos cientistas sociais e ao processo democrático angolano. Pretendemos unicamente analisar o poder da burguesia angolana em Portugal e as suas relações com a burguesia portuguesa. É por isso um livro sobre alguns dos donos de Portugal, os que são angolanos, e os seus aliados. Um estudo deste tipo nunca foi feito num âmbito tão vasto. Até hoje, uma análise cuidada da influência económica de empresas angolanas em Portugal foi produzida por um jornalista, Celso Filipe [1], e alguma investigação tem sido publicada sobre casos e acontecimentos, declarações e negócios. Falta no entanto um mapa completo destas redes de relações, medindo a sua influência e descrevendo a sua evolução, analisando com detalhe quem são todos os protagonistas destas operações económicas e financeiras. É o que pretendemos apresentar aqui. Fazemo-lo tendo consciência da dependência entre as duas economias, da natureza das alianças que a suportam, da sensibilidade política da questão e da necessidade de formas de relacionamento em que as sociedades e as opiniões públicas não se submetem à autoridade de Estado nem a interesses particulares que dela beneficiam. A informação e a reflexão aberta são os princípios da democracia, e contribuímos para o seu crescimento sem dependermos de subordinações e genuflexões. Assim, num primeiro capítulo analisamos o processo e os discursos sobre a acumulação primitiva em Angola, bem como a consolidação e alargamento da família política do MPLA em Portugal. Segue-se a história exemplar de Bento Kangamba, um general que se aproxima do círculo presidencial e que retrata as formas do poder desmesurado. No terceiro capítulo, esclarece-se o papel do capital angolano na economia portuguesa e depois faz-se o inventário dos grandes articuladores desta relação económica do lado angolano: Isabel dos Santos, Manuel Vicente, António Mosquito, José Leitão, o general Kopelipa. Em cada caso, descrevemos os seus parceiros portugueses e os principais investimentos que desenvolvem, tanto em Portugal como em Angola. No quinto capítulo é explicada a história especial do grupo Espírito Santo em Angola, dos seus contactos chineses e russos, da ascensão e queda de Álvaro Sobrinho, que dirigiu a filial angolana do BES e que é uma das figuras do capital angolano em Portugal. No sexto capítulo, procuramos as linhas que fazem “o triângulo dourado” (Mira Amaral dixit) Angola-Brasil-Portugal. Nele se destacam figuras como o ex-ministro Miguel Relvas e José Dirceu, que foi chefe da casa civil do governo Lula, ou ainda Fernando Lima, presidente do grupo Galilei (ex-SLN). No sétimo capítulo analisamos a lista dos responsáveis políticos e ex-governantes portugueses que assumiram responsabilidade direta ou indireta na ligação angolana, sendo membros das administrações das empresas que realizaram investimentos ou parcerias em setores estratégicos das duas economias. Essa lista nunca foi elaborada mas é essencial para compreender a profundidade das relações políticas e empresariais estabelecidas entre os capitais portugueses e angolanos. Finalmente, antes das conclusões, discutimos brevemente o caso Machete e a crise diplomática entre Portugal e Angola, que se acentuou nos finais de 2013, lendo os elementos ideológicos dos publicistas do regime angolano. Voltamos a demonstrar neste capítulo como naquele sobre a acumulação primitiva em Angola, que os maiores escritores angolanos oferecem uma interpretação sagaz, muitas vezes sarcástica mas sempre profunda acerca do enriquecimento, do autoritarismo e da corrupção da emergente burguesia angolana. Um agradecimento especial é devido a Rita Gorgulho, que elaborou os gráficos, e a Nuno Moniz e Adriano Campos, que prepararam a base de dados dos ex-governantes portugueses, o que permitiu identificar as empresas e administrações com ligações angolanas. [1] Filipe, Celso, "O Poder Angolano em Portugal - presença e influência do capital de um país emergente", Planeta, 2013 |
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CAPÍTULO 1. A "ACUMULAÇÃO PRIMITIVA" E A SUA FAMÍLIA POLÍTICA EM PORTUGAL O sistema económico angolano está hoje presente em muitos dos grandes grupos portugueses. Habituados a um modo de acumulação assente na promiscuidade com o poder político, estes grupos encontraram na oportunidade angolana acessos conhecidos a vastos recursos de capital. Este processo de conjugação é a mais profunda mutação estrutural da burguesia nacional desde as nacionalizações e das privatizações dos anos 90. |
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CAPÍTULO 2. KANGAMBA, PERSONAGEM DE PEPETELA “Angola tem direito a ter uma burguesia nacional que seja cada vez mais forte e mais rica”, escreve o Jornal de Angola, órgão oficial do regime (Jornal de Angola, 26.11.2012). Essa burguesia nacional constituiu-se em poucos anos, através de uma gigantesca acumulação a partir da renda petrolífera e da concentração dos seus benefícios no aparelho político e militar. A história da formação da burguesia angolana não tem paralelo em África nem noutros processos de acumulação primitiva, para adoptar os termos utilizados pelo próprio Presidente José Eduardo dos Santos. Este livro não trata a forma como se constitui essa burguesia, a sua história, as ligações entre os poderes militar, político e financeiro. Interessam-nos porém alguns exemplos, tanto porque demonstram como se estrutura a relação com Portugal, quanto porque evidenciam como se forma a experiência, o pessoal político e a atuação dos homens do regime. O general Kangamba é um desses exemplos. E dos mais esclarecedores sobre a acumulação de capital e influência política. |
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CAPÍTULO 3. ANGOLA NA ECONOMIA PORTUGUESA A importância relativa dos negócios entre Portugal e Angola depende do ponto de onde é observada. É certo que os fluxos de investimento crescem freneticamente: de 1,6 milhões em 2002, o investimento direto angolano em Portugal atingiu os 130 milhões só no primeiro semestre de 2012. O investimento português em Angola nesse período é da mesma ordem (120 milhões), mas é sabido que, em ambos os casos, há montantes não contabilizados porque algumas transações se processam através da Holanda, onde os grupos económicos portugueses e angolanos beneficiam de paradisíacas condições fiscais (Público, 31.8.2012). O poder do capital angolano na banca portuguesa faz-se sentir pelo peso acionista direto, mas também pela dimensão do negócio das filiais em Angola. A ocupação de posições determinantes na banca é estratégica não só pelo acesso a uma praça financeira permeável e ligada às praças financeiras internacionais. Nos últimos dois anos, ficou à vista que a aquisição de posições na banca portuguesa acabou por transformar o capital angolano em credor, por via da aquisição bancária, de inúmeros grupos financeiros descapitalizados. |
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CAPÍTULO 4. QUEM SÃO OS DONOS ANGOLANOS DE PORTUGAL? O livro analisa o processo de acumulação em Angola, bem como a consolidação e alargamento da família política do regime angolano em Portugal. Ao esclarecer o papel do capital angolano na economia portuguesa, faz o inventário dos grandes articuladores desta relação pelo lado angolano: Isabel dos Santos, Manuel Vicente, António Mosquito, José Leitão, o general Kopelipa. Em cada caso, são apresentados os seus principais parceiros e investimentos em Portugal. |
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CAPÍTULO 5. O ESPÍRITO SANTO EM ÁFRICA O BES é o grupo português com uma presença mais enraizada em Angola. Muito antes da corrida de bancos e construtoras para os braços do regime do MPLA, já o grupo Espírito Santo havia criado a Escom, que dominou durante quase duas décadas. O negócio cresceu na mineração, construção de infra-estruturas, aeroportos, estradas, saneamento, habitação. Em associação com o grupo russo Alrosa, recebeu numerosas concessões na exploração de diamantes, tendo sido ainda uma importante agência da aproximação do regime angolano à China. Associada ao ex-presidente do BES Angola, Álvaro Sobrinho, a Escom surgiu como acionista da Akoya, gestora de fundos suiça que esteve no centro do chamado caso Monte Branco. No verão de 2013, Ricardo Salgado deslocou-se duas vezes a Luanda, acompanhado do advogado Proença de Carvalho, para reuniões com José Eduardo dos Santos. |
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CAPÍTULO 6. BRASIL, ANGOLA, PORTUGAL: O "TRIÂNGULO DOURADO" Para o capital brasileiro e sobretudo angolano, Portugal tem o valor estratégico de constituir uma reserva de trabalho especializado em setores importantes - tecnológico, financeiros, de comunicação - e sobretudo a vantagem de manter um sistema bancário sofisticado e inserido nas praças europeias. Pelo seu lado, os grupos económicos portugueses enfrentam a crise procurando manter lucros em mercados externos acessíveis. Subordinados, consentem em ceder quotas nas suas estruturas a acionistas destes países; descapitalizados, assistem à entrega de rendas nacionais a grupos estrangeiros. Redes de influência política internacional, construídas a partir do exercício de funções governativas e conjugadas com posições relevantes em grupos privados opacos são a forma de vida dos grupos capitalistas portugueses concentrados em oportunidades de acumulação rápida em economias emergentes, em particular no “Triângulo Dourado”. |
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CAPÍTULO 7. MEMBROS DE GOVERNOS PORTUGUESES NOS NEGÓCIOS DE ANGOLA Na articulação das relações entre grupos económicos portugueses e angolanos, desempenham papel importante algumas dezenas de antigos membros de governos de Portugal. |
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CAPÍTULO 8. A LEI DA ACUMULAÇÃO E A VOZ DO DONO A constante referência dos dirigentes angolanos ao seu modelo de acumulação primitiva é talvez a característica mais marcante do seu discurso. Uma e outra vez, é repetida a ideia de que a solução de mercado é a chave para o enriquecimento de uma nova burguesia nacional, que esse é o projeto angolano e que é um direito comparável ao processo de acumulação violenta da história europeia. Neste capítulo são apreciados os elementos desta ideologia, começando pela comparação entre a acumulação e a corrupção, que foi o tema da intervenção do Presidente José Eduardo dos Santos no seu discurso sobre o estado da Nação em outubro de 2013. Resumimos depois outros pilares do argumentário do regime angolano. Finalmente, comparamos estes discursos com alguns dos grandes temas recentes da literatura angolana, que escalpelizam precisamente esta aristocracia do Estado e dos negócios. |
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CAPÍTULO 9. CONCLUSÕES Este processo de interligação entre os capitais portugueses e angolanos não tem qualquer paralelo na história do pós-colonialismo. Nenhuma potência colonial se transformou em suporte direto de um processo de acumulação primitiva na sua ex-colónia e, simultaneamente, num campo de reciclagem de capitais da elite no poder. Só explicável pelas características e dificuldades dos próprios processos de formação e acumulação da burguesia portuguesa, este caso é único. Para compreender o Portugal de hoje, é necessário conhecê-lo. |
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A base de dados completa, relativa a 776 ministros e secretários de Estado, pode ser consultada aqui. Em Os Burgueses, são estudadas as ligações entre a política e os negócios, analisando a informação pública relevante e construindo uma base de dados dos governantes, incluindo todos os membros dos Governos Constitucionais até final de 2013, para identificar as suas carreiras e registar as suas principais ligações empresariais diretas. Assim, são estudados os protagonistas destas ligações, a sua formação universitária e antecedentes profissionais, a sua história política e empresarial, a forma como se integram nas redes de acumulação, destacando ainda a sua vinculação às maiores empresas e aos grandes grupos económicos, às parcerias público-privado e aos escritórios de advogados. Esse inventário completo nunca foi feito e é um instrumento indispensável para compreender a sociedade portuguesa e, em particular, os processos de ascensão social, de representação e de cooptação pelas empresas. Pode visualizar a base de dados usada no livro Donos de Portugal através de uma visualização interativa desenvolvida por Pedro Cruz em "Um ecossistema político-empresarial" |
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Francisco Louçã João Teixeira Lopes Jorge Costa |
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Francisco Louçã é economista e professor universitário, tendo publicado recentemente Portugal Agrilhoado (2011) e, em co-autoria, Dividadura (2012) e Isto é um Assalto (2013). |
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João Teixeira Lopes é sociólogo e professor universitário, tendo publicado, entre outros, A Cidade e a Cultura (2000) e Geração Europa? (2014). |
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Jorge Costa é formado em jornalismo e co-autor, entre outros livros, de Os Donos de Portugal (2010), sobre o qual realizou um documentário com o mesmo título (2012). |
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O trabalho de preparação de Os Burgueses e de Os Donos Angolanos de Portugal beneficiou da colaboração de Nuno Moniz e Adriano Campos, que elaboraram meticulosamente as bases de dados sobre os ex-governantes e escritórios de advogados e apuraram alguns dos resultados que aqui publicamos, tendo ainda participado diretamente na discussão de vários dos capítulos da primeira parte e da conclusão teórica. O seu trabalho foi essencial para este estudo. Gonçalo Marques e Priscila Lopo colaboraram na investigação sobre revistas, condomínios, escolas e discursos políticos para os capítulos oito, nove e dez, trabalho que foi depois continuado por Belandina Vaz, em particular na recolha de dados para o capítulo dez. A Oficina do Mapa da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, e em particular Miguel Nogueira, prepararam os mapas que incluímos no capítulo oito. Rui Silva disponibilizou dados da sua investigação, que citamos no capítulo onze. Ricardo Lafuente prestou-se a fazer o levantamento dos dados sobre os debates parlamentares dos últimos anos, utilizados no capítulo treze. Sara Rocha colaborou na preparação de mapas das relações empresariais no capitulo seis e um gráfico de Frederico Pinheiro é utilizado no capítulo doze. Tânya Araújo, que trabalha com um dos autores num outro projeto, preparou alguns dos gráficos do capítulo seis. Agradecemos especialmente à Rita Gorgulho ter preparado, com a sua habitual disposição e profissionalismo, os outros mapas e gráficos que incluímos no livro. Finalmente, agradecemos os comentários de Francisco Teixeira da Mota e as indicações de Boaventura Sousa Santos e José Manuel Pureza quanto ao capítulo catorze, bem como os contributos críticos de Dulce Magalhães. |
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Nesta secção encontrará ligações para a compra de vários livros dos autores. |
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Nesta secção divulgamos algumas das tabelas, ilustrações e gráficos reproduzidos nos livros Os Burgueses e Os Donos Angolanos de Portugal. |
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SONANGOL |
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ÁLVARO SOBRINHO |
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ANTÓNIO MOSQUITO |
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GENERAL HÉLDER VIEIRA DIAS, "KOPELIPA" |
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ISABEL DOS SANTOS |
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GRUPO GEMA |
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FINERTEC José Dirceu está ligado ao Banco Rural brasileiro pelo “caso Mensalão”; à Ongoing pelos media do grupo no Brasil; a Efromovitch na candidatura à privatização da TAP. Dirceu é parceiro da sociedade de advogados LSF&A no Brasil. Além de Efromovitch, esta sociedade de advogados representou a PT no negócio da venda da Vivo, que abriu caminho à fusão com a Oi em 2013. À frente da LSF&A está Fernando Lima, grão-mestre do GOL e presidente do grupo Galilei (ex-SLN) com interesses em Angola. A Ongoing e o BES são acionistas de referência da PT. Miguel Horta e Costa, vice-presidente do BESI, foi referenciado pelo acusado principal do caso Mensalão. Horta e Costa foi presidente da PT e é presidente da Fundação Luso-Brasileira. José Rodrigues tem cargos de topo na filial de Lisboa do Banco Rural brasileiro. No universo Finertec/Fundação José Eduardo dos Santos, preside à Opex, (com Nogueira Leite, gestão de fundos estatais angolanos para aplicações em Portugal) e é administrador do Banco Fiduciário Internacional (com o presidente da Finertec e o ex-secretário-geral do PAICV de Cabo Verde, Armindo Maurício). A Fundação José Eduardo dos Santos dirige a Finertec através dos seus principais quadros. Miguel Relvas foi substituído por Marcos Perestrello, que ficou na administração da Finertec durante um curto período. Pereira Coelho mantém-se no grupo angolano. A Ongoing teve um acordo de parceria com a Finertec assinado quando Miguel Relvas era administrador do grupo angolano, que detém ainda uma participação na Fomentinvest Ambiente, de Ângelo Correia. |
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ZON Os principais cruzamentos de interesses no capital da Zon |
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GRANDES GRUPOS ECONÓMICOS São 108 os ex-governantes que arranjaram colocação nos grandes grupos económicos (no gráfico, cada traço indica um governante que ocupa ou ocupou lugares de topo em dois grupos simultaneamente, havendo casos de sobreposições, porque podem ser vários os ex-governantes que estão ou estiveram nos mesmos dois grupos) |
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PSI20 São 91 os ex-governantes que ocupam ou ocuparam lugares de topo em empresas do PSI20. |
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PPP Representa os 57 casos de ex-governantes em empresas das Parcerias Público-Privado. |
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Ligações de Capitais As ligações de capitais entre algumas das principais empresas. |
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Tabaqueira Um anúncio da Tabaqueira, eventualmente dos anos 1910 ou 1920: a sedução muito directa, como forma de promover um produto para um grupo específico (os homens), usando uma técnica libidinal muito elementar. O livro argumenta que a publicidade é uma das principais narrativas da mercantilização do mundo e da criação de um modo de comunicação assente na banalidade. |
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Comunicação Social O mapa da propriedade da Comunicação Social em Portugual. A produção noticiosa pode não ser determinada directamente por esta estrutura proprietária, e por vezes não é mesmo, mas ela condiciona sempre a longo prazo o funcionamento e as escolhas de pessoal dirigente nas empresas. |
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Principais Fortunas
Fonte: Exame. Valores em milhões de euros a preços correntes. As metodologias de apuramento pela revista Exame mudaram ao longo do tempo, na medida em que recorre a diversos instrumentos para avaliar as participações financeiras de empresas cotadas e não cotadas. A partir de 2009, a revista só listou as 25 maiores fortunas. |
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Capital Estrangeiro Cargos Simultâneos Controlo e participações de capitais estrangeiros em 28 grupos e empresas.
Fonte: Rosa (2013: 401). Dados de 2010. |
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Os "Campeões" Campeões empresariais.
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Cargos Simultâneos Governantes que ocuparam simultaneamente cargos de direção em grupos empresariais diferentes.
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Donos de Portugal é um documentário de Jorge Costa sobre cem anos de poder económico. O filme retrata a proteção do Estado às famílias que dominaram a economia do país, as suas estratégias de conservação de poder e acumulação de riqueza. Mello, Champalimaud, Espírito Santo – as fortunas cruzam-se pelo casamento e integram-se na finança. Ameaçado pelo fim da ditadura, o seu poder reconstitui-se sob a democracia, a partir das privatizações e da promiscuidade com o poder político. Novos grupos económicos – Amorim, Sonae, Jerónimo Martins - afirmam-se sobre a mesma base. No momento em que a crise desvenda todos os limites do modelo de desenvolvimento económico português, este filme apresenta osprotagonistas e as grandes opções que nos trouxeram até aqui. Produzido para a RTP 2 no âmbito do Instituto de História Contemporânea, o filme tem montagem de Edgar Feldman e locução de Fernando Alves. Donos de Portugal é baseado no livro homónimo de Jorge Costa, Cecília Honório, Luís Fazenda, Francisco Louçã e Fernando Rosas, publicado em 2010 pelas edições Afrontamento e com mais de 12 mil exemplares vendidos. A estreia televisiva teve lugar na RTP2 a 25 de Abril de 2012. Desde esse momento, o documentário está disponível na íntegra em www.donosdeportugal.net, com quase meio milhão de visionamentos online. |
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Sinopse. Com ilustrações e BD de Nuno Saraiva e design de Rita Gorgulho, este livro descreve o assalto que Portugal está a sofrer. Eles estão a cobrar impostos acima das nossas possibilidades, a retirar subsídios de férias e de Natal que eram as nossas possibilidades, a destruir o Serviço Nacional de Saúde, a escola pública e a Segurança Social que deveriam ser a devolução dos nossos tributos. Eles querem tudo. Eles, a finança, cobram uma renda sobre o nosso futuro e ainda querem convencer-nos de que somos culpados. Por isso, em Isto é um Assalto, faz-se a conta e cobra-se a fatura: verá como os bancos foram financiados pelos nossos impostos, como a austeridade e a chantagem da dívida estão a criar o maior desemprego da história do nosso país, como a troika destrói a vida das pessoas. Sinopse. Um livro sobre a crise das dívidas soberanas e do euro. Para além de abordar a atual crise e o caso português, «A Dividadura» traça uma perspetiva histórica do conceito de dívida e do seu contexto desde a Mesopotâmia, passando pelos textos bíblicos e indo até à bancarrota portuguesa no reinado do rei D.Carlos I, no fim do século XIX, à Grande Depressão ou às renegociações de dívida que tiveram lugar na Argentina ou na Islândia. Sinopse. A crise, sempre a crise. Desemprego como nunca, perda de salários, aumento de impostos, uma dívida externa que arruína o país, FMI à porta, tudo temperado com vagos escândalos financeiros demasiado próximos do poder político. A economia era um mistério, agora é uma ameaça. Este livro afirma que esta crise não é uma inevitabilidade, é antes a consequência da corrupção da economia, da degradação da estrutura produtiva, da destruição do trabalho, da ganância financeira. E é uma escolha de governantes, apoiados na pretensão científica absolutista de muitos economistas, que aspiram a criar um século de precarização. Ou, como cantam os Deolinda: «e fico a pensar/que mundo tão parvo/para ser escravo é preciso estudar». Este curso para o horror económico tem de ser vencido. O livro convida os leitores a discutirem a crise no tempo do FMI, a analisarem as teorias económicas, a conhecerem os problemas e a escolherem o que vai ser da nossa vida. Sinopse. Este livro apresenta os donos de Portugal e faz a história política da acumulação de capital ao longo dos anos que vão de 1910 a 2010. Descobre-se a fortuna nascida da protecção: pelas pautas alfandegárias contra a concorrência, pela ditadura contra as classes populares, pela liberalização contra a democracia na economia. Esta burguesia é uma teia de relações próximas: os Champalimaud, Mello, Ulrich, entre outros, unem-se numa mesma família. Os principais interesses económicos conjugam-se na finança. Esta burguesia é estatista e autoritária: o seu mercado é o Estado e depende por isso da promiscuidade entre política e negócios. Os Donos de Portugal retrata também um fracasso monumental: o de uma oligarquia financeira incapaz de se modernizar com democracia, beneficiária do atraso, atraída pela especulação e pelas rendas do Estado e que se afasta da produção e da modernização. Ameaçada pelo 25 de Abril, esta oligarquia restabeleceu-se através de um gigantesco processo de concentração de capital organizado pelas privatizações. Os escândalos do BCP, do BPN e do BPP revelaram as faces da ganância. Este livro demonstra como os donos de Portugal se instalam sobre o privilégio e favorecimento. Sinopse. Este livro serve para estudar Economia. É destinado aos que estudam nos primeiros anos do ensino superior, mas também aos que simplesmente querem saber como funcionam as economias modernas e quais são as teorias e os modelos que as tentam explicar. A sua leitura é simples, mas dá trabalho. O livro é introdutório, não exige portanto um grande conhecimento prévio da Economia ou da matemática, e está escrito para ser lido por qualquer pessoa interessada. Convida o estudante a pensar e a formar a sua opinião, a ler os principais autores da ciência económica, a conhecer os seus debates e teorias, a olhar para a realidade e para os números e a treinar-se nos principais instrumentos da economia e da estatística (...). Sinopse. Como pode ser compreendido o impacto das tecnologias revolucionárias nos ciclos económicos, na economia e na sociedade? Porque não tem sentido a economia sem a história e sem o entendimento das mudanças institucionais e técnicas? Significa a "nova economia" o "fim da história"? Estas são algumas das questões que os autores se colocam e procuram responder neste livro, através da análise do crescimento económico desde a Revolução Industrial até à nova era da informática. Sinopse. A teoria das vibrações foi desde Pitágoras uma das inquietações dos cientistas. O livro investiga um dos domínios fascinantes dessa busca curiosa, convocando personagens vários, desde matemáticos como Taylor e Sauveur, a família Bernoulli com as suas discussões com D'Alembert e Euler e outros cientistas do nosso século. A aplicação dos princípios do pêndulo à construção de relógios, o orgulho da ciência renascentista, provou que a aplicação destes principios podia mudar o mundo. De outras experiências profissionais e indagações académicas trata também este livro. Para concluir que, se ainda hoje se sabe tão pouco acerca das oscilações económicas a que estes estudos da mecânica misteriosa do pêndulo foram aplicados, continuamos a poder aprender com as perplexidades de um movimento tão complexo. Menos complexo do que a vida e as sociedades. Mas para responder é preciso começar por saber perguntar. Sinopse. "A Globalização Armada" passa em revista essa história de alianças e traições, manobras e intrigas e analisa o supra-imperialismo como sistema de poder, na sua força e na sua fraqueza. Este império está a viver uma crise dramática, não só no atoleiro iraquiano, mas sobretudo na sua estrutura económica e social. A guerra infinita é a consequência directa e a resposta a esta crise. Sinopse. "A Guerra Infinita" passa em revista os argumentos do Império e dos seus imperadores, desde a 'doutrina Monroe' ao 'princípio Rumsfeld' contra o Iraque, passando pelo que trouxe o Médio Oriente ao actual sistema de caos e pilhagem. E aceita o debate: com os pedagogos da chacina como opção única, mas também com o pensamento crítico, emergente no movimento pela globalização solidária. |
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